Mare Nostrum de Júlio Quaresma Com o patrocínio da ARTEH® – Hotels and Resorts, teve lugar, no passado dia 6 de Outubro, em Valência, Espanha, a inauguração da Exposição Mare Nostrum, de Júlio Quaresma.
Nesta, Júlio Quaresma concebe uma das mais interessantes e bem conseguidas interacções entre o espaço, “La Muralla” no IVAM, Institut Valenciá D`Art Modern, e os elementos plásticos ali instalados. Um espaço que se projecta na memória como elemento estruturante de uma vivência comum, a do Mar Mediterrâneo. A sala é o Mar Mediterrâneo, entendido como espaço multicultural e de interculturalidade e cujos diálogos ou mesmo a ausência destes reflectem o mundo e nele se reflectem.
Consuelo Císcar, Directora do IVAM, escreve acerca desta obra que tal como Júlio Quaresma, Francis Bacon começa a utilizar, em representações da figura humana, fotografias de raios X sendo que aqui os aspectos sequenciais da mesma nos remetem também para a obra de Eadweard Muybridgee e conclui “in the other hand, Leonrado da Vinci`s contribuitin to the knowledge of anatomy is a scientific feat and a legacy of wich we are still disciples and that contains a humanism that Quaresma reflects in all his creative inventory.”
A sala envolta numa luz azul, indutora da presença do mar, funciona como passagem/ligação mas também como barreira. Sobre a muralha projectam-se frases de origem religiosa e cuja forma dinâmica teatraliza a imagem do movimento do mar enquanto, nas paredes, os corpos dialogam entre a pintura e a fotografia, Como afirma Lyle Rexer, crítico de arte americano, a apropriação da fotografia aqui é um atrevimento e que “If Wharol proposed a seconde mode of being or photography, them we might that Quaresma has proposed a third”.
O homem surge aqui visualizado como suporte de uma mensagem em que só despido de correntes, numa perspectiva similar à do bom selvagem de Rousseau, pode influir e transformar o tabuleiro de xadrez, num jogo sem xeque-mates.
O arquitecto, artista plástico e cenógrafo, denuncia aquilo que sucede no íntimo de todos nós. A sua obra constrói-se em torno do corpo, enquanto edifício com vida e mostra as suas personagens na pintura com tridimensionalidade, como esculturas atléticas presas à tela.
Quaresma estuda a metamorfose do corpo na sua busca permanente da felicidade e a religião que o persegue obsessivamente. “O Homem é um animal religioso que se esquece de Deus” escrevia o sempre irreverente Baudelaire ou como afirma Fernando Castro Floréz o sujeito nesta obra é um fetiche, um objecto inorgânico, “according to Freud, the presence of that nothing that is the maternal penis and the sign of its absence”. And yet Quaresma draws perfect bodies, albeit characterised by an extraordinary kind of sexual ambiguity…these bodies lack faces, they are decapitated, close to what Bataille called “acephalia”
Os homens de Quaresma, andróginos e transexuais simbolizam o primeiro homem e pode ser que encontrem a sua redenção nos ritos religiosos que aqui se insinuam. Como nos quadros vividos de Klossowski, simulacrum and mimesis mark the game of doules and identity.
Com um discurso de imagens ambivalentes expressas a partir de uma poesia maneirista, arrastadas por um marcado subjectivismo, Quaresma deixa adivinhar a intenção em evidenciar a necessidade premente de evasão do ser humano contemporâneo. O desejo de desaparecer, de transmutar-se, de evadir-se de uma realidade asfixiante é uma constante nos seus versos/pinceladas.
Telas, fotografias e elementos escritos são complementadas por um vídeo que se projecta sobre a água dentro de um cubo negro que nos remete para outros ícones religiosos, de Cristo a Alá e o espaço de diálogo e de silêncio, de amor e de conflito surge no vídeo Amar(ras) como uma metáfora à comunicação, desenhada entre a sedução, o amor e o ódio através de cordas com que nos amarramos a nós próprios.
Para a cerimónia de encerramento da Exposição, a 12 de Janeiro de 2006, está programada, em paralelo com a conferência sobre a água, em que estarão presentes Júlio Quaresma e Lyle Rexer, uma performance onde gente desnuda encherá a sala de Exposição. |